quinta-feira, abril 23, 2009

Hino à minha liberdade

Este foi o dia em que a máquina do hospital sorriu para mim.
Um hino.
À liberdade de olhar abertamente, como Sophia,
e de ver e conhecer por dentro, como Ana.
De subverter a minha própria sociedade organizada, como Gedeão,
e de ver uma infinidade de pontos, como Deus.
Um hino à liberdade de reconstruir sistematicamente
o meu próprio equilíbrio.

domingo, abril 19, 2009

Hoje está sol.

Hoje está sol. O céu é de um azul muito claro, e as monstruosas sombras dos prédios da minha rua descansam, deitadas no meio da estrada.
Mas ontem estava cinzento, e eu podia ver o fim da estrada em que conduzias a tentar agarrar a cor do céu para a poder guardar só para ele, podia esconder-me das casas e dos cafés atrás do nevoeiro, e brincar com a minha mente às escondidas até me perder de vista, sem que mais ninguém soubesse, ou quisesse saber, ou tivesse hipótese de querer saber.
Hoje está sol. (O sol é teu!) Eu não tenho saudades nenhumas do cinzento que me inunda e me faz respirar fundo e sentir que gosto de dias cinzentos, porque isso seria não poder ter um dia cinzento, e eu tenho. Eu tenho.
Tal como tenho tubos de tinta-da-china e muitas razões para pintar.
Hoje está sol, e é todo muito teu.

sábado, abril 18, 2009

Solidaried'Art

Hoje já começou. Começou sorrateiramente e até devagarinho, no meio da noite, no meio do frio, como quem não quer a coisa...vá, como se fosse natural ser-se um dia tão importante.
Pusemos neste dia as nossas maiores expectativas. O nosso trabalho, as nossas mãos, as nossas ideias, os nossos tinteiros, a nossa gasolina, a nossa imagem, o nosso tempo, tanto de nós.
Aqui está um apelo à bondade. Aqui está o sonho colectivo de uma vida melhor. Aqui está todo o nosso crédito na Humanidade. Aqui está um grupo, simples, jovem, que se julgava morto. Aqui estão as pessoas que ousam dar as mãos a outras mãos que mais precisam. Aqui estão os jovens que acreditam que é assim que se anda: ao colo de Deus pelo chão do mundo.
Sinto-me útil. Mais que isso: sinto-me viva.

terça-feira, abril 14, 2009

Fragilidade

Esse baxel, nas praias derrotado,

Foi nas ondas Narciso presumido;

Esse farol, nos céus, escurecido,

Foi do monte libré, gala do prado.

-

Esse nácar, em cinzas desatado,

Foi vistoso pavão de Abril florido;

Esse Estio em Vesúvios encendido

Foi Zéfiro suave, em doce agrado.

-

Se a nao, o Sol, a rosa, a Primavera,

Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel

Sentem nos auges de um alento vago,

-

Olha, cego mortal, e considera

Que és rosa, Primavera, Sol, baxel,

Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.

Francisco de Vasconcelos

-

Gostei tanto do poema...é tudo verdade! Sinto-o hoje na minha pele.

sexta-feira, abril 10, 2009

Fica comigo.

É aqui que tu aprendes a sofrer.
Só sofre bem quem ama bem, e só ama bem quem está comigo.
Também tu me abandonas. Também tu adormeces. E Eu agonizo no meio dos pecados de todo o mundo.
Tu preferes ir estar com os teus amigos porque aqui não há palavras de conforto, nem é divertido, nem os teus problemas têm qualquer importância. Aqui há dor e solidão, e tu enfraqueces. Mas não te lembras de que os meus amigos me negaram e me traíram. Não te lembras do quanto preciso de ti, que tu fiques, que tu ores, que tu vigies, que tu esperes, tu.
Pedes, pedes, pedes... Chegou a minha hora de pedir. Abandona-te a ti mesmo, então. Abandona todos os teus projectos e apaixona-te pelo futuro que sonhei para ti, só para ti. Presta atenção. Tudo suporta. Não cedas às tentações. Instruir-te-ei e porei em ti o poder de incendiar o mundo com o amor do meu Pai. Não é fácil. Ninguém disse que era fácil. Não vieste aqui espreguiçar-te! Lembra-te de mim. É assim que aprendes a sofrer bem.
Fica comigo.

sexta-feira, abril 03, 2009

O vento lá fora

Círculos. Tudo são círculos.
Tal como uma infinidade de p.o.n.t.o.s.
Pontos que são sombras
E sombras de sombras.
E a vida é bela, e x a c t a m e n t e assim.
E dói.
Por todos os pontos
onde era para doer
e ainda nalguns onde
não era suposto.
Mesmo assim ela é bela.
Não era bela
nem ela
se não fosse assim.
A cena é ir.
O vento está lá fora
(O vento é para os loucos.)
E há-de sempre estar
Serve para ser vivido
Serve para ser sentido
E depois para se fugir.
É por aqui?
Há-de ser, mais ou menos...
Porra, pah,
por quem sois...
Teremos sempre o mesmo sorriso
Novo na cara
De quem risca e arrisca.
De quem se afia e desafia
Para ir à luta com vontade.
O dia só acaba deste lado!
Somos loucos, não somos?
Minha Marta, se somos.