sábado, junho 27, 2009

Vais ver!...

É possível que viva em mim alguém que nunca vi? Não, mas eu vi. Será possível que viva em mim alguém que nunca conheci? Não, claro que não, se não conheci, não. Mas eu conheço, e vou conhecendo, porque vive em mim e eu conheço.
Sinto que é, que foi, e que é sempre.
A vela é o tempo que arde. O tempo é a vela que passa.
Às vezes apetece-me ir até ao cemitério dizer olá a um resto de corpo morto...dizer Sou a Ana e já tive oito anos, como tu também já tiveste...! Vou andando agora nos meus dezasseis e não fazes ideia das coisas que tenho para discutir contigo!
Mas faz. Porque está e as minhas coisas são um livro aberto para quem está. Se não estivesse, eu não sentia que sim.
"Um dia a minha mãe também vai para ao pé de ti e então tu vais ser-me muito útil e voltar a falar-lhe daquelas coisas só tuas...e eu vou chorar de felicidade quando perceber que voltaram a rir-se à gargalhada...a tal gargalhada de cabeça para trás... Vais ver!"

terça-feira, junho 23, 2009

Eu posso tudo.

Vai haver sempre isto. Isto não, mas outra coisa qualquer. E eu vou ser sempre um copo que cai e que parte. Sempre um copo, sempre eu, sempre um estardalhaço enorme - para mim, claro - que antes de chegar aqui caiu de 50 prateleiras muito muito muito altas. Porque o muito é sempre relativo, tal como Deus é minúsculo.
É por isso que a Mariana ganha sempre - sempre é sempre - e a Sara é e sempre será - sempre é sempre - a minha Tangerina. Porque eu sou um copo que cai e que parte, independentemente de tudo o resto, menos de tudo - que é o mesmo dizer que nada. E é assim que é independentemente, i. é, de modo independente. Porque eu sou um copo que cai e que parte e que se não caisse nem partisse não estaríamos todos aqui a fazer nada. E se não fosse independentemente nesta dependência total e absoluta que expliquei há uns momentos atrás, também não valia a pena estar para aqui a escrever.
Pum. Caiu. Haha.

segunda-feira, junho 15, 2009

Diz.

Diz que o escuro volta.
Que há um lugar para crescer e um tempo para ser racional. Que é bom ter medo e que a noite existe sempre, mesmo quando nós deixarmos de existir.
Diz que é, se nós quisermos. Diz que sim.

sábado, junho 13, 2009

eu sou um copo.

Poisou o copo sem o partir.
(Ainda tinha água, mas era o mesmo que não tivesse, porque de qualquer das formas não foi bebida.) Devagarinho, deu um beijo à mãe e, como se tivesse voltado ao estúdio de dança, dirigiu-se ao quarto, depois à cama, sem que o mínimo ruído tivesse oportunidade de se estrear.
Deitou-se. Sonhou um sonho acordado: que estava na praia, naquela mesma noite, e que afinal não existia dor no seu mundo. O seu mundinho ridículo onde podia não haver dor, se se sonhasse dolorosamente muito, mas sem se notar.
Levantou-se e pegou nas bandas de cera. Olhou pela janela sem que a janela desse por isso. Uma noite, a primeira, em que a depilação não doeu nem um bocadinho.

sexta-feira, junho 12, 2009

Apesar de cocó, eu amo-te.

Fica uma ode.
Uma ode aos amigos. À confiança. Àquela cumplicidade que nos embrenha uns nos outros. Àquele hábito tão nosso e tão bom de irmos conhecendo. Às coisas que acontecem: as boas e as más, que acabam sempre por fazer de nós quem vamos sendo.
Um hino a todas as pessoas que foram, nem que por um minúsculo momento, e mesmo que nunca o tenham sabido, o mundo para alguém.
Na prática, faço então uma ode às pessoas; ao ser humano em si, capaz de tanto. Capacitado para ir, ver, cantar, pensar, teorizar, rir, lutar, vencer, perder, acreditar, sobreviver...capacitado para ser plenamente e para amar aos bocadinhos.
E hoje, especialmente hoje, àqueles que perseguem os seus sonhos como podem, com quanto podem, e são dignos de esquilhões por isso.
Ao Miguel, ao Vasco, ao Hugo e ao Válter.

quarta-feira, junho 03, 2009

Para mim todos os dias são derrotas II

Porque senão eu ganhava.
Porque senão já não havia aqui nada para fazer, porque estava ganho.
Quero ir. Quero querer! Quero continuar a perder e a não ter para poder continuar a ir ganhando.
Quero, quero, quero, e quero nunca deixar de querer. Porque quando eu não quiser mais, já não há em mim sonhos, já não há em mim saltos, nem sóis, nem bichos, nem tangerinas, nem chocolates, nem foguetes, nem flores, nem precipícios, nem teoria alguma, nem qualquer réstia de vida.
Cada dia é uma chapada. Cada dia é a oportunidade de a curar. De a superar. E de confiar que, quando chegarem outras, havemos de chegar para elas todas.
Não há aqui nada que seja meu. Perdi tudo. E nada me dá mais força, nem mais poder, nem mais confiança. Não há aqui absolutamente nada que seja meu.