domingo, dezembro 20, 2009

"Velho, velho, velho"...

Olho-os. Eu cresço, eles envelhecem. Os anos cobrem-se com a pele como um cobertor, e eu vou contando as dobras.

Daqui é como se não mudassem. E por mim era sempre assim. O meu pai embaraçado sem dizer, nunca dizer o que sente. Em todos os Lethal Weapon, Roger Murtaugh (Danny Glover) dizia "I'm too old for this shit". E eles vão estando velhos o suficiente para as coisas.
Vergílio dizia que "ser velhor é ir sendo pouco", mas eles não são esses velhos. São aqueles que já fizeram, já sabem, têm, e agora olham. Observam. Contemplam. Uns, com "iogurtes com pedaços" entre os dedos que ainda estão longe da reforma. Outros, que silenciam o espaço como que por magia quando falam.

Diz-se que vai nascer um Menino agora por esta altura. Aqui nasce assim, e eu não conheço outro. No tempo que passa como a vela que arde. É aquele fogo que nos dá sentido... Queria ter uma que não morresse nunca!

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Toma.

Olhava com o olhar de quem recebe o que é dado, de quem não sabe, de quem crê não ter como responder. Era quem não cabia em si. Era quem não sabia o que era para estar naquele lugar.
Disse só "Toma. Guarda.". É meu, e por isso é teu, quis dizer, mas falou só por olhar. Não queria uma festa, não queria um obrigado, porque não faria sentido. Dar é dar. E não é a qualquer um, é àquele ser humano específico e em especial. Não queria um abraço, um olhar, sequer. Porque aquele dar chegava, bastava-se, para dizer tudo que fosse preciso. Estás aqui e eu quero que tomes, que segures, que guardes, que leves, que sejas. Sou eu e és tu e eu saio de mim para ti. Sou tu, aqui. E a partir daqui, tu és o que tu entenderes.
Dar é dar. É ser um outro. Não somos maiores, mas há algo de maior em nós. Não transbordamos nunca de nós, mas de algo diferente. Algo maior. Algo que brota, que grita, que precisa de um Outro. Dá-se, porque só se pode dar. E dar assim...é ser. É amar. É chegar.
Não dói. Antes nos queima aquela sensação de que fizemos tanto esforçando-nos tão pouco. E olhamos nos olhos aqueles olhos. Tão fora de nós, tão distantes em tantos sentidos, mas tão perto, e tão iguais aos nossos... Está aqui. Toma!