(assim mais ou menos à Rita)
Estive lá hoje, na Praça do Comércio, a ver os homens trabalhar o altar.
Gostei mesmo. Não porque estivesse bonito, ou o ar cheirasse bem, mas talvez a certeza de que algo grande vai acontecer ali... A sensação de poder, eu, sozinha, estar ali, à espera... Sou cativada de nascença, e anseio, sofro por antecipação, como Exupéry tão bem soube explicar.
Sentei-me lá, no meio da Praça, no chão aos papagaios. E ficámos, eu e o meu caderno, a ver as pessoas, a tentar distinguir o Vasco da Gama do Viriato...e dos outros dois senhores. E o vento lisboeta despenteou-me e vesti a camisola e continuei o meu caminho. Não costumo andar sozinha por sítios que não conheço. Mas Lisboa...sinto que nunca conheci, por muitas vezes que por lá passeie. Nunca sei se é esta rua, ou aquela, ou onde está o multibanco, se é esta a igreja, ou aquela casa, ou se já ali passei ou não. Parece sempre que não. E sorrio, sempre, quando alguém grita para alguém, muito frustradamente, Oh minha Nossa Senhora!... Há coisas que guardamos, quando passamos por elas. Não como se roubássemos uma fruta, mas como se apanhássemos um dente-de-leão no ar e metêssemos no bolso, à espera do lugar ideal para o largar. E do fundo da rua, Oh JAQUIM!! Oh, desculpe, minha senhora. Jaquiiim!...
Respira-se diferentemente. Era um dia como os outros. Mas hoje, especialmente hoje...tinha uma estranha alegria de ser, no esperar, no poder sentar e olhar, no ter dinheiro no bolso e pensar Não vou gastar coisíssima nenhuma., no andar à procura das coisas e sentir que o cansaço não ia vir nunca, enquanto o meu corpo respirasse Lisboa. Uma Lisboa que espera o Vigário do verdadeiro Cristo. E hoje, especialmente hoje, não estava sozinha.
E isso...isso sente-se.