quinta-feira, dezembro 13, 2012

C'est beaucoup moins dansant!

Au premier temps de la valse, toute seule tu souris déjà...
Au premier temps de la valse, je suis seul mais je t'aperçois...

Às vezes é uma questão de sorte. Depende dos dias! Há dias em que tudo tem um lugar, e outros há em que o lugar mudou de sítio sem avisar.
Às vezes são grandes coisas. Grandes decisões, grandes acontecimentos, life-changing. Depois disto, tudo.

Mas e nos intervalos? No deserto? No gap entre um e outro picos, entre o início da aula e o intervalo? Há toda uma valsa de mil tempos, de mil solicitações, mil pares à espera para dançar. Eu fico. Fujo do salão porque acho que parti o salto de um sapato. Arrumo a trouxa no vazio, monto calmamente uma cabana e espreguiço-me a pensar como acampar é feliz e entusiasmante.

Tempo de esperança, mas sobretudo de esperar. Cheira-me que era suposto eu preparar também alguma coisa. E isso vai ser feito. Mas quem é que exige mais que eu o faça?

Jacques Brel - La valse à mille temps

quinta-feira, outubro 25, 2012

Mas não é isto.

O luto é outra coisa.
É a estrada que um faz sozinho, que tem tanto de incomunicável como um iceberg de submerso. Luto é impacto, é dor, é gaguez emocional. É caminho, é crescer, é morrer também e recomeçar.
É comer as palavras de Sophia quando diz que 
Em nome da tua ausência 
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.
e aprender com ela que " (...) as minhas mãos não podem prender nada.".
E porque é dor, um dia é aceitação. Sair da Unidade da Dor, tirar o último cateter. Deixar que o Inverno morra em nós para a identidade voltar a espreitar, renovada.
Necessariamente difícil, absolutamente necessário. Às vezes, lindíssimo. E por isso é que é outra coisa...

terça-feira, outubro 16, 2012

Carapuços

Hoje quis explicar o que é amar. As minhas crianças queriam saber, e eu quis explicar. 
Será que elas amam? Será que sabem melhor que eu, mesmo sem saber? Ou não têm ainda essa faculdade?...
Eu falhei.
Um dia vão ser adolescentes, e depois jovens, como eu. E depois vão ser o que vem a seguir. E vão "sentir", e "saber". E perguntar, e ler, e ver, e ter, e fazer.
Hoje esquartejei o amor em caixinhas chamadas "respeito", "perdão", "amizade" e outras que tais. Ainda vivo, arranquei-lhe as patas para enfiar em tachinhos e pôr ao lume.
Eles ficaram satisfeitos com o prato, mas eu acho que é porque não estavam comigo na cozinha e não viram a chacina.

Hoje um crianço, meio enfiado, depois de eu ter perguntado se gostavam dos irmãos deles, respondeu baixo e quase indignado Eu não gosto, eu amo. E aquilo deu-nos pano para mangas e carapuços.

De onde me é dado que eu tenha meia dúzia de crianças para cuidar, para...amar!, e possa falhar redondamente?

domingo, julho 29, 2012

Distas.




É tão necessária a quebra do que está. 
Para se perceber o que há, o que está bem e o que está mal. O que se precisa.
É tão necessária a morte à vida!

terça-feira, julho 17, 2012

Fac


Encontrei um texto aqui perdido, de não há muito tempo. Como não é de hoje, publico-o com a data de ontem.

Continua a haver coisas que não gosto de estudar. Coisas que gosto de saber, em que me sinto bem, mas continuo a não gostar de estudar. E preguiço. Imenso. 
Há coisas que fazem sentido. Não como antes. Antes eram só muito interessantes e lógicas, como a História, ou mexiam com as minhas entranhas, como a Literatura. Acho que essa vai ser sempre o meu amor. Amor proibido!
Agora há futuro. Investimento, investimento, investimento. Penso que aprendi, mesmo sem me mexer muito, em alguns meses, coisas que mudaram a minha maneira de olhar as pessoas. Os deficientes, os gagos, os disléxicos. Os universitários, os anti-praxes, os professores. As crianças, os acidentados. Os falantes, os surdos, os bilingues, os gémeos, os prematuros. O comum mortal que é também o centro do meu estudo, quando calha. Porque todos temos algo de anormal. Porque para conhecer a disfunção temos de dominar a função.
Invisto em mim, sobretudo. Trabalho-me. Avalio-me, derroto-me, estrago-me. Com mimos, também. Estudo.
Mas também nas pessoas. Penso muito nelas. Nos meus colegas. Na minha família. Muito. Dou-me.
É um ritmo novo, mas quando aprendemos os passos depois já não dá para não dançar. É isso. Pego no meu carro, e vou. Sou eu. 

sexta-feira, junho 29, 2012

Pai, senta-te aqui ao pé de mim.



É difícil dizer isso. Que queria que ficasses aqui.
Não quero que digas nada, não quero nada. Abraça-me. Ou fica. Ou nada, mas aqui. É-me impossível, insuportável. Como se perdesse alguma coisa muito importante no momento em que admitia que só queria ser abraçada, mesmo que não fisicamente.
É-me estranho que não precises de mim como eu espero que o faças.
Como se ficasse nua. Como se todos – e tu também – pudessem ver o meu egoísmo, o quanto te quero para mim, só para mim.
Para nada, senta-te só aqui ao pé de mim…

domingo, maio 13, 2012

Última Lúcia


O grupo de teatro de que faço parte leva a cena durante o mês de Maio a peça Os Pastorinhos de Fátima. É da autoria de Eurico Lisboa (Filho), uma pessoa que conheceu toda aquela história bem de perto.
Ontem, no entanto, foi a última vez que pisei o palco para encarnar a Lúcia. Eu dei-lhe corpo, voz. Tive 10 anos por algumas horas, alguns espectáculos. E ela deu-me tudo o que ela foi. A sua confiança desmedida...que não era cega mas segura, de quem sabe bem em quem pôs a sua confiança. Um amor que a fazia querer entregar-se sempre, de tudo o que pudesse, que implicava obedecer sempre. Uma pequenez verdadeira, a de uma verdadeira pobre do Evangelho. Calma, medição, responsabilidade. Oração constante.
Ontem guardei aquelas roupas, aquele lenço. Alguém há-de continuar o que eu comecei. Mais espectáculos se seguirão, e depois acaba este projecto. E a Lúcia, bem como todo o Mistério de Fátima, será o que sempre foi. Para alguns, só uma história, ou uma brincadeira para iludir os crentes. Para outros, tão mais que isso. Fica ao critério de cada um. O que ninguém poderá nunca negar é a Graça com que aqueles três pequenos - e com eles todos os homens - foram abençoados. O que, apesar de tão pequenos e analfabetos, conheciam de Deus, da dor, do que queriam ser e a quem se queriam dar...é inegável.
Não sei se importa tanto acreditar ou não que a senhora toda de luz lhes apareceu há 95 anos. Importa saber quem queremos ser. E se a escolha for a pequenez, a mansidão, a confiança, a entrega total da nossa alma a este Invisível, então aqui teremos estes pequenos beatos (e um beato é quem é feliz, bem-aventurado, porque se encontra na presença de Deus) que têm tanto para nos contar.

Acerca dos espectáculos e para ver algumas fotos...clicar aqui.

terça-feira, março 06, 2012

As chaves da mesma casa.

Há algum tempo não visitava o blog do mfc, o Pé de meia... Antes visitava muito, todas as semanas. A verdade é que naquele blog não dá para ficar só um bocadinho... É como comer aqueles snacs pequeninos, simples, mas bons, parece que não vamos parar enquanto não dermos cabo do pacote.
Num dos posts mais recentes, ele dizia assim "Chama-se de família a um grupo de pessoas que têm as chaves da mesma casa.". E eu fiquei a cogitar no que ele escreveu!
Pois é. A minha família tem as chaves da minha casa. Sim, também da minha casa física, que tem pêlo de cão e gato por todos os cantos e problemas de humidade nas paredes e tectos mais afastados do sol. Mas também da minha casa.
São quem foi intimado a gerir coisas comigo, a tomar conta de mim, a aturar-me, a conhecer-me, mesmo que não quisessem nada disso. E são quem faz isso sempre, desde...que cá estou. Quer eu queira, quer não, eles têm as chaves da minha casa. Do meu orgulho, da minha incompetência. Da minha alegria. Do que eu sou, e fui e vou ser.
Não que eu tivesse querido e lhas tivesse dado. Mas, incontornavelmente, há coisas que estão bem feitas.

domingo, janeiro 15, 2012

Click.

quanto tempo cá não ponho os pés (vá, as palavras)...! É preciso hierarquizar, estabelecer prioridades...e umas coisas vão tendo menos atenção que outras.
O blog é uma coisa que não esqueço, ainda assim. E venho cá às vezes, mesmo que seja só para reler o que escrevi há muito tempo. Lembro-me perfeitamente da razão pela qual o blog foi criado (razão que me leva hoje a não apagar alguns textos, ou mesmo a apagar tudo, e a vir cá dizer coisas), e continuo a pensar nele, embora na esmagadora maioria das vezes fique mesmo só por aí: por pensar nele.
Hoje quero publicar isto.
É esta a vida que eu quero. É assim a fotografia que eu quero que a minha vida seja.
As pessoas, como a morte, como a dor, como as nuvens e as ondas, e as cerejas e as castanhas, vêm e vão. E também nós, e os nossos pais que envelhecem, e as plantas que crescem para morrer para nascer para crescer para morrer para nascer! E as nossas opiniões, as nossas paixões, o que queremos de nós e dos outros e de todas as coisas.
É preciso é que, em cada momento, o essencial fique. Há alguma coisa que mora em nós e em tudo. Como o musgo que assiste à vida a passar e fica. Mora. Permanece.
É isto que eu quero que fique, mesmo que tudo o que hoje é difícil possa vir a ser mais difícil. Tão simplesmente, talvez, a alegria de partilhar o que temos de bom e de mau. A vontade de construir, mesmo que inexperientemente, porque vale a pena investir no outro, naquilo que há de bom na pessoa 'nós'.
Esta fotografia em particular foi tirada na Serra da Estrela, com a Cai, o André, o Gui e o Válter, no dia 30 de Dezembro de 2011.
Outras ligações: Alegoria da Caverna, A vida partilhada e acerca de morar.