Acaba o ano pastoral. Dão-se contas. Vai um prior embora, e vem um outro. As pessoas morrem. Ou fazem anos. Ou faz anos que morreram. Ou fariam anos de vida se ainda estivessem vivas.
E eu descubro novas possiblidades, novos sítios para explorar, com aquele tempo que acho sempre que não tenho e que sabe tão bem gastar quando é muitíssimo bem gasto. Descubro, até, novos tios. E a melhor parte é que são os mesmos que já cá estavam há 17 anos, mesmo aqui ao pé da mão! E já cá estavam, já para mim, para eu os conhecer, muito antes de eu estar em qualquer lado.
E chego aqui. E apetece-me ralhar com os meus pais, porque nunca me avisaram que o tempo ia ter passado antes de eu saber que ele existia (antes mesmo de eu abrir os olhos!), quando sabiam muito bem que era assim que funcionava. Tanto um como o outro. Avisaram-me que eu ia cair muitas vezes, mas não me disseram que ia haver vezes que doíam mais que outras. E se o mundo fosse como eu acho que devia ser era horrível porque então nunca ninguém podia fazer as pazes, ou arrumar os quartos, ou descobrir pessoas dentro das pessoas, e eu nunca teria sentido a contracção de todos os músculos da minha cara ou um percorrer ácido nos meus pulmões ao abraçar o meu pai. Mas estaria agora a beber chá que sabia a Ice Tea e a comer bolachas de chocolate e a invejar um cabelo invejável.
Embrulham-se, depois de terem doído tudo o que havia para doer. Agora doem só de vez em quando. Vão ficando, mandam uns bitates. Nós vamos sendo. E o tempo...o tempo é como se não existisse, aqui.