
Não te sei falar. Simplesmente, não te sei falar. É como...se não tivesse palavras para ti. Quer dizer...não, não quer dizer nada, não tenho mesmo palavras para ti. Lá está: temos todas as armas contra tudo, estamos preparados para responder a tudo, e defendemo-nos de tudo, até do amor. Mas é amor que te tenho? Tenho amor a alguém a quem não sei falar? É que não sei mesmo o que te dizer. Tudo o que tinha, disse. Não há já nada que não saibas, ou tenhas sabido. Sou repetitiva, redundante, no que toca a ti.
Impotente. Sinto-me tão pequena... És tão crescido...! Sim, sei que não escolheste crescer...és aliás das poucas pessoas que parece saber o verdadeiro valor do prazer de sermos crianças. És um homem. E eu tenho o maior orgulho em ti. Sei que não devia, na teoria não me és nada... Mas és tão grande! Se um dia eu tivesse metade daquilo que tu tens...fosse no que fosse: coragem, humildade, amizade, verdade, inteligência, doçura, capacidade de perdão, capacidade de entrega...oh, amigo, como teria enriquecido!
Um dia dissemos que a nossa amizade sobreviveria a tudo. O que me fascina, ainda hoje, é a tamanha confiança e despreocupação que púnhamos nessas palavras. É que...não imaginávamos a vida de outra forma. Esses eram dias em que te chamava algo parecido com Melhor Amigo. Hoje? Posso chamar algo assim a alguém a quem não sei falar? Não sei....a mim apetece-me, porque nunca tive amigo maior que tu. Sim, posso ser ingénua, mas não creio algum dia vir a ter. E, no entanto, sinto-me perfeitamente inútil. Vou continuar aqui às voltas. Talvez apareça algo que me desvie a atenção, para continuar a viver no mundo ridículo que construí, aqui.