domingo, janeiro 18, 2009

Grey Days III

Dia cinzento é céu branco.
Dia cinzento é banco de jardim.
Dia cinzento é candeeiro alaranjado numa tarde crepuscular.
Dia cinzento é nariz frio, e vermelhinho.
Dia cinzento é um arrepio de felicidade.
Dia cinzento é uma poça no caminho.
.
Dia cinzento é a ponte, o compasso de espera - tão necessário! - para as amendoeiras em flor.
Dia cinzento é o nevoeiro que nos restringe a nós, obrigando-nos a travar conhecimento com o espelho, e a construir com ele uma relação à flor da pele.
Dia cinzento é acordar com olhos de peluche para não magoar o sono, na manhã azul que se espreguiça lá fora.
Dia cinzento é tinta-da-china de sol.
.
Estas nuvens espicaçam os meus nervos como um aguilhão. E o Inverno, esse invade-me. Como um conquistador.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Determinismo, um pormenor.

Podemos optar pelo que nos parece bom, quer dizer, conveniente para nós, frente ao que nos parece mau e inconveniente. E, como podemos inventar e escolher, podemos enganar-nos, que é uma coisa que não costuma acontecer a castores, abelhas e térmitas.
Savater, Ética para um jovem
Porque não estamos escritos. Não está lá, no nosso ADN, que temos de escolher este curso, nem que temos de dizer bom dia aos vizinhos no elevador, enquanto está no ADN dos cães atacar quando alguém se aproxima enquanto estão a comer, e no das térmitas-soldado ir combater e morrer pela colónia a que pertencem. No mínimo, não podemos negar a noção de responsabilidade ao fazermos uma escolha. Tudo o que fazemos pode estar determinado por tudo o que somos e toda a vida que temos para trás, mas eu teria sempre tido motivos, se quisesse, para escolher a outra via. Porque eu penso o que eu quero. Se eu quiser, escolho isto. Se não, não.
E é claro que falamos de duas hipóteses que me são completamente acessíveis, ou o meu discurso não faria sentido.
É isto que dói.
O peso da responsabilidade, da culpa. O saber que há escolha, que para além do mais é nossa.
Era tão mais fácil ser determinista...