segunda-feira, março 21, 2011

Hoje, epiteto-te de outra coisa.

Uma cicatriz na testa atesta aquilo que já foi um síndrome da sela turca (harmonioso epíteto para se dar a um tumor na hipófise...).

Deus, na minha casa.

A possibilidade de cheirar pela primeira vez? De saborear pela primeira vez? De pela primeira vez correr, cozinhar, limpar, rebolar na relva? Ir apanhar amoras depois da chuva? O dom de ser e de aceitar e de participar da empresa maior e mais feliz de todas. A faculdade de respirar cada tempo, a faculdade de recomeçar.

Não imaginas como é bom estar aqui., sorriu ela. Como Pedro disse ao Cristo.

Hoje, epiteto-te de outra coisa. Uma outra coisa, maior que nós, que tudo o que conhecemos. Um ponto, um átomo, o mais pequenino de todos. Aquele que é mais verdade que o sol. Que vinha antes do princípio, e que eu guardo no bolso. A sombra da sombra da sombra mais branca e mais redonda de todas. O Mosteiro Invisível que cabe inteiro num adenoma da sela turca.

Deus, na minha casa.

segunda-feira, março 14, 2011

Decantação?

Tic, tac, tic, tac.

Onde ficaste? Que foi que deste? Onde moras? És quem?

Moro porque sei que tem mais sabor. Não o sinto agora, mas... Minto. Sinto-o agora já porque o antecipo, sabendo que me vai saber melhor. Saboreio hoje o saber que amanhã vou sentir-me bem por ter esperado, aqui. Se quiseres, é puramente egoísta, morar. Porque vai ser melhor para MIM.

Vou continuar a esperar. Inteira?

Vou fazer a minha decantação. Decantar-me. Quando acabar, descubro. Espero.

Tic, tac, tic, tac. Olha eu a morar.

quarta-feira, março 09, 2011

Decantação?

E pronto, parece que sou resmungona. Acho que o lado de cá é mais difícil, mas não conseguiria trocá-lo. Não consigo. Não quero. Sei que assim é impossível, e que cada vez vai ser mais. Ter percebido isto não me parece nenhuma conquista, mas parece ter sido difícil. Agora...agora não sei. Estou num sítio que só pode mudar. Num limbo. É como se tivesse tentado fazer um teletransporte, mas a coisa tivesse corrido mal. E então não estou aqui, nem lá. Não estou. Tenho um não-lugar? Resmungo porque faz sentido. Chateia? Resmungassem, tudo havia de ficar resolvido, logo-ali. É assim que as pessoas crescem, creio. Olhando o que está visto, como se fosse a primeira vez. É assim que um não-lugar, como a solidão, se evapora.