Fazer silêncio nos dias anteriores à Páscoa é a forma mais profunda que já experimentei de viver estes dias.
Em Taizé como na quinta de Cerisiers, Ameugny, onde vivem as raparigas que fazem silêncio, não estamos nem em silêncio completo nem em clausura. Paramos o trabalho que tínhamos durante a semana e apartamo-nos dos nossos amigos. Cessa a atitude comunicativa em direcção aos que me rodeiam para me ficar só na vivência séria, comprometida, da Páscoa.
Isto inclui juntar-me a uma comunidade que está toda em silêncio para as refeições, as introduções bílbicas e, se possível, dormir. Inclui também assumir tarefas simples como a lavagem da loiça ou a limpeza de uma parte da casa. Inclui refeições mais simpáticas, sem grandes filas, com música clássica, flores e passarinhos. Inclui um refill de chá quente a qualquer hora do dia (sim, do melhor chá do mundo). Inclui o acesso a material de escrita, pintura, costura e olaria durante todo o dia, bem como a um jardim imenso que se espreguiça sobre a colina verde a perder de vista.
Mais importante que tudo, faz-me mergulhar na Jerusalém de outros tempos. Ouvir aquelas vozes, sentir aqueles passos. Em Cerisiers ajudam-nos a entrar no círculo dos mais próximos de Jesus. A repetir o que sentiram, a pensar no que pensaram. A Paixão de Nosso Senhor é vivida por cada uma de forma tanto individual como comunitária, de forma dirigida mas livre.
A oração, o tempo, o silêncio e a Bíblia são as nossas armas. Usamo-los como parecemos usá-los desde sempre, como se fosse natural andar calado e abrir a boca quase só para cantar, e cantar rezando. Les Cerisiers muda-nos porque é "natural e justa", porque é nossa sem ser. Porque é uma janela aberta, escancarada, para a nossa vida, e ainda tem flores floridas e lindas, grandes e pequeninas, aguarelas cheias de alma e um chão que canta connosco e com os insectos e os passarinhos. E quando cá, podemos ainda vê-la. E aí, o equilíbrio de lá canta aqui.
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