terça-feira, julho 28, 2009

Ano 2000

Na capa do manual de Língua Portuguesa estava escrito um poema de que nunca mais me esqueci. Salvo erro, de Alice Vieira. (Se estiver errado e me lembrar mais tarde do nome correcto, venho cá corrigir.)

Lá estava, escrito à mão, em letras gordas e...hum...de principiante. Hoje ainda é verdade. Como o sol.

Gosto da palavra e da letra

Gosto de quem a escreve

Qualquer letra ou palavra é preta

Num fundo branco de neve

domingo, julho 19, 2009

Atrevimento

Uma viagem silenciosa, como quem está no meio da rua a ver um furacão chegar. Não é bem medo. Antes uma confiança estranha no que está para vir. Bom ou mau...nada a temer: é uma experiência.
Gosto de me sentar no chão e cruzar as pernas "à chinês".
Espero, apenas, pelo que vem na travessa para a minha mesa.
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Atrevo-me a ficar, tão somente, a vê-lo chegar. Por vezes, corro para ele na ânsia incontida; por outras, recuo um pouco para ganhar algum tempo que ainda me é útil. No final, e seja como for, é sempre um encontro desejado. Ele vem ao meu encontro e eu espero-o no meio, no centro, onde a pressão é nula.
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É assim que tudo posso: está tudo bem.
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Pois é. Fui para um convento. Se doeu? Obviamente. Enxertos de porrada deixam sempre as pessoas - que sentem - doridas, com nódoas e cicatrizes provenientes das investidas mais certeiras. Não nasci de novo. Não mudei de nome. Não mudei de vida. Mas estou aqui...dorida...e a digerir.

sexta-feira, julho 10, 2009

téni

Ténis? Tennis?
O que é certo é que tenho um sapato no tecto.
Ao contrário, i. é, de cabeça para o ar. Se é que os sapatos, ténis, tennis, têm cabeça. Bem vistas as coisas, o téni (ténis?) não é meu. Nem o tecto.
Mas está lá, o sapatinho. Pendurado pelos atacadores com um laço, com a sola virada para cima, no céu do quarto onde eu durmo.
Há pessoas que fazem ahh depois de beberem água. Há pessoas que escrevem livros, e também as há que não os escrevem. Todas as pessoas são estranhas pelas coisas que fazem, sobretudo porque fazem essas coisas não as outras possibilidades de coisas para fazer. Há pessoas que dizem téni, e também isso nos diz qualquer coisa.
O que é estranho, então? Tudo? Gosto que sim. Afinal é isso que nos apaixona nas pessoas.
Lembro-me de estranhar escrever o meu nome. Era assim que eu me chamava, e agora podia escrevê-lo.
Voltar a olhar. Uma primeira vez.
No tecto, ao menos, não está desarrumado.

segunda-feira, julho 06, 2009

Rolling Stones

Às vezes, tudo o que eu queria era um dia cinzento.
Às vezes nem queria, só precisava.
Só um, nem tinha de ser o dia todo, só assim um bocadinho durante a tarde, por entre a gritaria e confusão deste sol cataclítico.
Mas a gente não manda. E eu sou um bocadinho de gente. Se a gente não manda, bocadinhos dela mandam ainda menos. Right?
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No entanto, às vezes, não só o dia fica cinzento e escuro, e fresco e ventoso, e limpo e grande, e espaçoso e cheio, como também se farta de chover e ainda nos cai uma senhora trovoada em cima. Passa-se ali um dia inteirinho - inteirinho! - em que o sol não atrofia cérebros nem músculos nem poros, se limita simplesmente a preguiçar sobre as fofas nuvens que fazem o favor de chover cá para baixo. Alguns bocadinhos de gente ganham ainda a possiblidade de passear - individualmente ou não - debaixo dos pingos indefinidamente sistemáticos e torrencialmente sequenciais daquela liberdade imensa e de depois ouvir a serra respirar ou sentir a cidade renascer. E tudo isto de graça!
Os Rolling Stones são famosos por causa daquela frase deles a respeito de nem sempre se poder ter o que se quer, mas às vezes conseguimos ter aquilo de que precisamos. Sublinho: às vezes, podemos ter o que queremos e o que precisamos ao mesmo tempo, com tudo grátis e às vezes até há beijinhos!

sábado, julho 04, 2009

Ninguém pode.

Curiosos, os caminhos humanos.
Bichos estranhos. Protegem-se de sismos, lutam contra cancros, preparam-se para furacões, cheiram tempestades, sobrevivem a acidentes, escapam, continuam, esperam.
Mas da culpa? Salve-se quem puder!