Descobri que há algo entre os peregrinos e os camionistas. Está lá, de facto; é inegável.
Talvez um, ao olhar o outro, se reveja nele. Talvez se veja ao espelho, veja alguém igual a si. Na solidão de cada quilómetro e na dor de conduzir o que lhe foi confiado. Na dúvida de conseguir matar mais a necessidade de parar, e depois no aborrecimento de ter de o fazer. Ambos fazem caminho, e caminho fazendo alcançam objectivos. E recebem cada qual o que lhes compete. Cruzam-se na estrada e saúdam-se. Cada um como tem, como é, diz. Qualquer coisa. E naquele segundo...o caminho é a vida que queremos ser. Os ténis não passam a ser pantufas, nem as bolhas um pesadelo distante. Mas tu és o meu camionista e eu sou o teu peregrino.
Claro que só quem peregrina sabe do que falo. Mas creio que há sempre um camionista para cada peregrino.