Descobri que há algo entre os peregrinos e os camionistas. Está lá, de facto; é inegável.
Talvez um, ao olhar o outro, se reveja nele. Talvez se veja ao espelho, veja alguém igual a si. Na solidão de cada quilómetro e na dor de conduzir o que lhe foi confiado. Na dúvida de conseguir matar mais a necessidade de parar, e depois no aborrecimento de ter de o fazer. Ambos fazem caminho, e caminho fazendo alcançam objectivos. E recebem cada qual o que lhes compete. Cruzam-se na estrada e saúdam-se. Cada um como tem, como é, diz. Qualquer coisa. E naquele segundo...o caminho é a vida que queremos ser. Os ténis não passam a ser pantufas, nem as bolhas um pesadelo distante. Mas tu és o meu camionista e eu sou o teu peregrino.
Claro que só quem peregrina sabe do que falo. Mas creio que há sempre um camionista para cada peregrino.
2 comentários:
Faz a este, faz a este! 1,2,3
E assim é porque nos cativámos, peregrinos e camionistas.
Uns habituaram-se a ver os outros a andar e a pedir para apitar, e esses outros que somos habituámos-nos a vê-los passar, e a fazer vento e sombra e a acenar, a apitar, a rir, a mandar vir...
E esse peregrino podia ser igual a 100 mil outros peregrinos, tal como esse camionista podia ser igual a 100 mil outros camionistas...
Mas porque se cruzam, porque andam em sentidos diferentes (se andarem correctamente) tornam-se diferentes de todos os outros, e reconhecer-se-ão em qualquer lado. Os das bolhas nos pés, e os das bolhas no bum-bum...
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