Escrever ou não escrever, eis a questão. Escrevo?
Escrever não muda este desespero...não afasta esta profunda angústia...não acaba com o atrofio cerebral por que passo neste momento...escrever mutila, dilacera, nega, destrói. Fecho-me num mundo inacessível, escondo-me por detrás de palavras. E minto.
Minto porque não sou o que escrevo. Ou sou o que escrevo e por isso não sou o que penso ser. Mas minto porque o que sinto não corresponde ao que escrevo. Porque se escrevesse o que sentia deixaria de ser só meu. O que sinto só eu sei. Mais ninguém. Egoísta? Não.
Não tenho nada meu para poder chamar-me egoísta, porque o que sinto é um vazio. Oco. Desligado de tudo.Contei. Não é mais só meu. Já não minto. Ou minto na mesma porque continuo a escrever o que não sinto, a fechar-me num mundo inacessível e a esconder-me por detrás de palavras.
Mas agora todos sabem que minto. O que é mentir? É sentir este vazio? É ser oco por dentro? desligado de tudo? É querer fechar-me neste mundo e esconder-me por detrás de palavras?
Mentir ou não mentir, fechar-me ou não me fechar, esconder-me ou não me esconder.
Escrever ou não escrever.
Ser ou não ser, eis a questão.
JC
2 comentários:
Grande JC
Parece que escrever ajudou a esclarecer o que se sente. O pior inimigo é aquele que não tem nome! Nomear a experiência, dar um rosto, tornar "dizivel" permite olhar de frente, procurar estratégias, traçar objectivos!
...e às vezes mostrar a "um outro", não ter medo de vermos quel o reflexo que "esse outro" dá de nós, dá-nos a experiência reconfortante do entendimento, do reconhecimento!
Pensa!
O vazio pode ser inicio de procuras e descobertas!
Escolhe bem o que o vai preencher!
Conheces o poema de Fernando Pessoa (se não me engano Alvaro de Campos) "a Tabacaria"?
Ora vai lê-lo!
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