Um blog acerca da concordância entre o pensamento e o objecto do pensamento. Por meio de tentativas, erros e silogismos parvos, usando de alguma dialéctica, muita metafísica e muito pouco distanciamento crítico. O eu não existe. Mas os pijamas sim.
quinta-feira, abril 20, 2006
A Tabacaria
Num dia em que percebo poemas, Fernando Pessoa e, sobretudo, Álvaro de Campos (nem todos os dias são dias de poemas, quanto mais de Fernando Pessoa, longe de Álvaro de Campos. Pelo menos para mim..) resolvi procurar pela Tabacaria.
Já tinha lido os primiros quatro versos, mas pareceram-me apenas quatro versos.
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
E depois dei uma vista rápida ao poema (dava para 5páginas A4 no tamanho 11 de uma letra relativamente pequena) e desisti.
Hoje procurei por ele.
Hoje compreendi-o. Acho eu.
E percebo agora porque me aconcelharam a lê-lo.
"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!"
"Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra."
Mas..."show must go on", como diziam os Queen. Quando estamos como o meu querido JC, ou mais perto de Álvaro Campos, vazios, sem nexo..a "realidade plausível" cairá sempre de novo em cima de nós, como que para...nos acordar. Depois há um rosto amigo, que nos conforta, mesmo que seja unicamente pelo facto de não nos ser apenas mais um que podemos ver da janela do quarto.
"Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."
obrigada, Inês...
nem sei o que dizer e como responder à ajuda que me ofereceste...
espero que um sorriso amigo, conhecido e cheio de gratidão chegue por agora, mesmo que não o consigas ver, espero que o consigas sentir...........
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1 comentário:
;-)
Um beijo!
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