segunda-feira, setembro 07, 2009

O Outono II

Deste-me um beijo. Virei costas, ajeitei o gorro e abandonei o espaço em que ficavas, aceso e distante: recônditos e aconchegantes refúgios de mim.
E estava a chover. Aquele som invadiu-me, como se de há anos atrás se tratasse. Aquela imagem, mágica, do chão pintado de pedaços de céu, impregnou-me daquele cheiro.
E lembrei-me, de súbito. Da nossa chuva. Até o meu nome, que há muito deixara de me fazer cócegas na nuca. Aquilo que era o princípio e o fim de nós, o início e o final de tudo quanto, juntos, tocávamos com as pontas dos dedos.
Tanto porque chegaste inesperado como um aguaceiros, logo no primeiro instante, como sempre foste - aquela presença que me encharcava em alegria, que me enchia de liberdade para transbordarmos em confiança...eras a criança que havia dentro em mim, e que me fazia querer chapinhar em poças e rir à gargalhada...
Tanto porque a minha chuva eras tu. O meu suspiro, o meu alívio, o meu conforto, o meu amor, o meu abraço, a minha frescura, os meus esguichos, o meu arrepio a cada momento que vislumbrava esses olhos doces ou sentia a tua voz bater em cada pedacinho de dentro de mim...
Hoje vais e voltas e tudo quanto é teu não dura mais que um instante. Hoje apareces e desapareces com a rapidez e instensidade com que aquelas gotas chatas nos acertam exactamente entre a nuca e a roupa que nos cobre as costas.
Não deixa de ser curioso. Amo-te como - parece - desde sempre. Nada mudou de lugar, mas acho que ele não conseguiu ficar no mesmo sítio. Não podia, né?
Vai. Farei de cada tempestade o meu mais profundo aplauso. Lembra-te de mim.
Vai. Não preciso de ti para te amar, porque te amo - mesmo - assim. Vai. Sonha, corre, luta. Vencerás.
Vai. Nada me faria mais feliz que saber-te feliz.

8 comentários:

Alex Fernandes disse...

Está tão bonito o texto. Muito bom , mesmo.

Ritinh@ disse...

Querida gémea (posso ainda chamar-te assim?)...

Consegues sempre impressionar-me com o teor da tua escrita...

"Vai.. porque nada dura para sempre..!"

Beijinho grande minha querida companheira de caminhada!
Quero saber como foi TAIZE!!!

sara. disse...

Admiro as tuas opiniões. Juro que sim. Eu não consigo ter a capacidade de independência que tens. Opah wooow, és tipo tudo o que eu gostava de conseguir ser ás vezes. Talvez não se sofresse tanto com a partida de alguém ou de alguma coisa.

Se calhar tens razão, quando sentimos falta de alguma coisa é porque de facto nunca a tivemos (continuo a não conseguir concordar, mas damn, como adorava concordar contigo!).

Enfim...

tua tangerina.

Otário Tevez disse...

saudações otárias!

Boop disse...

Realmente há despedidas que não podemos evitar, nem tão pouco escolher. E essas não deixam zanga, doiem porque nos doi o pedaço que é arrancado de nós, e a saudade fica, mas pode ser uma saudade amiga.

Lá no "canto" para ti.....

Anónimo disse...

Very nice, very well written, as always! :)
I love Google Translations ;)

Greetings from the north,
Clara :)

mac disse...

Eu não sei, ...
Mas com alguém desta estatura, como não saber-se feliz? Como não saber-se vencedor?
O pior é que quando alguém vai, nós vamos com esse alguém - tanto mais quanto mais o amamos, quanto mais esse alguém é importante para nós.
Ele fica, parece, e parece que nós é que vamos.
E é necessariamente solitária esta experiência.
Mesmo quando alguém sonha e corre e luta ao nosso lado. É apenas ao nosso lado. Só Deus para estar dentro de nós.

mac disse...

Mais exactamente, no meio de [mim].