quinta-feira, outubro 25, 2012

Mas não é isto.

O luto é outra coisa.
É a estrada que um faz sozinho, que tem tanto de incomunicável como um iceberg de submerso. Luto é impacto, é dor, é gaguez emocional. É caminho, é crescer, é morrer também e recomeçar.
É comer as palavras de Sophia quando diz que 
Em nome da tua ausência 
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.
e aprender com ela que " (...) as minhas mãos não podem prender nada.".
E porque é dor, um dia é aceitação. Sair da Unidade da Dor, tirar o último cateter. Deixar que o Inverno morra em nós para a identidade voltar a espreitar, renovada.
Necessariamente difícil, absolutamente necessário. Às vezes, lindíssimo. E por isso é que é outra coisa...

terça-feira, outubro 16, 2012

Carapuços

Hoje quis explicar o que é amar. As minhas crianças queriam saber, e eu quis explicar. 
Será que elas amam? Será que sabem melhor que eu, mesmo sem saber? Ou não têm ainda essa faculdade?...
Eu falhei.
Um dia vão ser adolescentes, e depois jovens, como eu. E depois vão ser o que vem a seguir. E vão "sentir", e "saber". E perguntar, e ler, e ver, e ter, e fazer.
Hoje esquartejei o amor em caixinhas chamadas "respeito", "perdão", "amizade" e outras que tais. Ainda vivo, arranquei-lhe as patas para enfiar em tachinhos e pôr ao lume.
Eles ficaram satisfeitos com o prato, mas eu acho que é porque não estavam comigo na cozinha e não viram a chacina.

Hoje um crianço, meio enfiado, depois de eu ter perguntado se gostavam dos irmãos deles, respondeu baixo e quase indignado Eu não gosto, eu amo. E aquilo deu-nos pano para mangas e carapuços.

De onde me é dado que eu tenha meia dúzia de crianças para cuidar, para...amar!, e possa falhar redondamente?