terça-feira, junho 20, 2006

AS MINHAS ASAS

Eu tinha umas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Que, em me eu cansando da terra, Batia-as, voava ao céu. – Eram brancas, brancas, brancas, Como as do anjo que mas deu: Eu inocente como elas, Por isso voava ao céu. Veio a cobiça da terra. Vinha para me tentar; Por seus montes de tesouros Minhas asas não quis dar. – Veio a ambição, co'as grandezas, Vinham para mas cortar Davam-me poder e glória Por nenhum preço as quis dar. Porque as minhas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Em me eu cansando da terra Batia-as, voava ao céu. Mas uma noite sem lua Que eu contemplava as estrelas, E já suspenso da terra, Ia voar para elas, – Deixei descair os olhos Do céu alto e das estrelas... Vi entre a névoa da terra, Outra luz mais bela que elas. E as minhas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Para a terra me pesavam, Já não se erguiam ao céu. Cegou-me essa luz funesta De enfeitiçados amores... Fatal amor, negra hora Foi aquela hora de dores! – Tudo perdi nessa hora Que provei nos seus amores O doce fel do deleite, O acre prazer das dores. E as minhas asas brancas, Asas que um anjo me deu Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.
(Almeida Garrett- Flores sem Fruto)

4 comentários:

Anónimo disse...

oi mana adorei o poema. Nunca tive uma colega,amiga assim como tu.
Beijocas

Indie-Go! disse...

tá engraçado o blog ;)

Anónimo disse...

hum maravilhoso poema...
Notei que o poeta perdia sua liberdade expressada através das "asas" que ao final do poema ele perdia.
ótima forma de dizer sem dizer realmente oq se diz! ahuahau
vlw... olhem com um olhar mais
analítico todas as obras poéticas...

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e