terça-feira, maio 08, 2007

À sombra de nós mesmos.

Não sei o que aconteceu...não sei. Posso contar-te segundo a segundo, talvez até consiga chegar ao fim sem a voz tremer, se me esforçar para isso. Mas agora...não sei. Como também não perguntas, não tenho de me dizer a mim que sei. Obrigada. . Esvaziei-me. Dormi durante horas. É isso que costumo fazer quando chego a casa com a cabeça daquele tamanho...dormir. (A minha cabeça estava do tamanho do tempo da discussão e do volume dos berros...estava maior que a dor que sentimos um mais o outro, ao discutirmos.) Dormir. Porque preciso que o meu organismo recupere tudo aquilo que perdeu em cada berro, em cada lágrima, em cada resposta pronta. Então durmo. É o melhor vitamínico, é o melhor energético, é o melhor relaxante, é o melhor alimento. Para além de ser o melhor aspirador de...tudo. Esvaziei-me. . Não percebi muita coisa, que hoje até chegaste a explicar... Não percebo como podemos fugir de nós próprios e daquilo que sentimos....mas dizer agora tudo aquilo que não percebi seria assumir que sei muito bem o que se passou e o que sinto. Seria...contradizer-me. Um dia, acusaste-me disso. E rimos os dois. Era um daqueles dias em que contei contigo para tudo....tudo mesmo. Era um daqueles dias em que foste para a cama a pensar que tinhas medo do que sentias...mas que era bom esse sentimento!...e que ele te levava e deixava num mundo onde não há problemas... Porque é que as pessoas têm tanto medo de deixar os problemas de lado?? Porque teimam tanto em levar os problemas para onde quer que vão?? Vamos de férias?? Bora levar as discussões!! Vamos apaixonar-nos?? Bora ficar a pensar o dia todo nas coisas más que (como somos videntes, sabemos) vão existir!! Porquê?? . ** . Dormir. Enfiar-me debaixo dos lençóis depois de desligar o motor do aquário e puxar as persianas na sua totalidade...para que não se note tanto a diferença entre a luz natural e a escuridão abissal que vai cá dentro. Para que só me possa ouvir a mim, se proferir algum som. Para cair em mim mesma e ter o meu espaço onde não chegam claustrofobias. Entrego-me a mim e ao meu corpo. Não aos meus pensamentos que, hoje, não me levam a nada. . Sonhar...com o dia em que vais ser sincero. Em que a confiança entre as pessoas é além do que elas pensam conseguir. Em que somos mais do que aquilo que alcançamos. Em que superamos todas as barreiras que um dia impusemos a nós próprios. . Mas a realidade não é assim. Parece que gostamos de nos esconder atrás daquilo que tememos, parece que não temos orgulho que sermos quem somos, como somos, pelo que somos. Parece que não gostamos daquilo que construímos. Vivemos...na penumbra, com medo de nós, e de sentir e de arriscar e de dar o passo...e de dar o braço. Vivemos à sombra de nós próprios. . "Acorda, Ana, anda jantar, vá. Depois o pai ajuda-te na matemática. Olha-me só para este quarto...não te deitas enquanto isto estiver assim, ouviste?"

2 comentários:

Boop disse...

Priminha...
Também sei que não te conheço a ti... mas é tão bonito o que consegues mostrar de ti mesma. Mesmo a tristeza... mesmo a angústia... mesmo o querer não pensar...

Dormir faz-nos voltar a ser meninas, que num colo doce (que agora damos a nós mesmas enroscando-nos no escuro de uma cama quente) retemperam forças, reorganizam pensamentos, se ganha um destanciamento que permite relativizar o que se vive.

Um beijo grande!

Anónimo disse...

Se o texto não estivesse patentiado, quase que o assinava ... não aos 14, não aos 23, mas aos 30 e tal...

A Vida é uma maravilha, cheia de testes à nossa capacidade de manter os nossos "Castelos de fadas" mesmo que só se vejam os sapos encantados...
Cresce bem, cresce forte, cresce serena, cresce reflexiva, dá sempre tempo ao tempo, não tenhas pressa e mantém um magnifico sorriso nos olhos.
Mil beijos