“- Bom dia, Thibault!
- Bom dia, Yolande… (Silêncio).
- Parece que estás cansado?
- É que caminhei muito…
- Sim, a tua ausência durou muito tempo. (Silêncio).
- Era difícil de encontrar.
- O quê?
- O que eu queria.
- E o que é que tu querias?
- A lua.
- O quê?
- Sim, eu queria a lua.
- Ah! (Silêncio). E para quê?
- Sabes, é uma das coisas que ainda não tenho.
- Está certo. E conseguiste o que querias?
- Não. Não a posso ter.
- É aborrecido.
- Sim. É por isso que estou cansado. (Pausa). Yolande!?
- Sim Thibault.
- Tu pensas que eu sou louco?
- Sabes que nunca penso. Sou suficientemente inteligente para não pensar.
- Sim, está bem, mas eu não estou louco e nunca estive tão lúcido. Simplesmente, senti de repente uma sede do impossível. (Pausa). As coisas, tais como elas são, não me satisfazem.
- É uma opinião muito espalhada…
- É verdade. Mas eu não sabia. Agora sei. Este mundo, tal como está, é insuportável. (Pausa). Eu tenho necessidade da lua ou da felicidade ou da imortalidade. De qualquer coisa que não seja deste mundo.
- É um raciocínio que se tem. Mas, afinal, não se pode ir até ao fim…
- Tu nada sabes. É porque não se quer ir até ao fim, que nada se alcança. Mas é preciso sermos lógicos até ao fim.
- E qual é a verdade, Thibault?
- Os homens morrem e não são felizes. (Pausa).
- Então Thibault, é uma verdade que não incomoda ninguém. Olha à tua volta. Isso não impede as pessoas de almoçarem.
- Então é porque tudo à minha volta é mentira. Mas eu quero que se viva na verdade…”
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Albert Camus, Calígula
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