quinta-feira, fevereiro 28, 2008

IV

Nós somos loucos, não somos? Desta louca poesia, Desta riqueza dos pobres Que se chama fantasia! Ergamos pois nossa tenda E nosso lar de pobreza No mais ermo desses montes, No fundo da natureza. Se o frio apertar connosco, Pois não temos mais calores, Aqueceremos os membros Na fogueira dos amores! Se for grande a nossa sede, Tão longe da fonte fria, Contentar-nos-emos, filha, Com as águas da poesia! Assim à nossa pobreza Daremos a Imensidade... Que com isto se contente Nossa pouca seriedade. E, pois somos loucos, vamos Atrás dos loucos mistérios... Deixemos ricas cidades Ao sério dos homens sérios!
Antero de Quental
Primaveras Românticas

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