sexta-feira, maio 16, 2008

Idade.

De tudo o que me faz pensar, há uma coisa que me atropela a cabeça. A idade. Não a minha, a deles. Há qualquer coisa que rasga. Choram-me as estatísticas que eu estarei cá quando os meus pais não estiverem. Muito nublado, bem sei. Mas real. Posso tê-los agora, e abraçá-los com a carne que me deram, mas...e depois? Vejo-lhes os anos na pele e a pele dá-me saudades. Saudades do que não vou ter. É a lei da vida, e todas as frases feitas que pregarem nas paredes. Mas a saúde teima em ir à sua vida cedo demais. Não a deles, a das estatísticas. Hoje tenho-os ali. Visto daqui, dos meus olhos, não envelheceram. Foram emprestando um ou outro ano aos ossos. Quero o meu pai a ficar envergonhado quando diz "gosto muito de ti filho" e a minha mãe com gotas de amor a marcar passo nos olhos quando diz "gosto muito de ti filho, nunca te esqueças disso". Nunca te esqueças disso. E depois, o que fica? As memórias não são de carne, são de lágrimas. E essas custam mais a abraçar. Há qualquer coisa que rasga, eu bem disse. Sei que estão na casa dos sessentas. Mais precisão do que essa acelera-me o sangue. "São novos". E porque é que não ficam sempre assim? Atrasem o relógio quarenta anos, vá lá. Só desta vez, ninguém vai dizer nada à terra. Apetece deixar cair uma pedra na roda dentada e parar tudo. A assobiar, para não ter de prestar contas. A palavra filho é patente deles. Quando a dizem há uma manta que protege o coração até cima. Depois da estatística fica só o coração e a manta enrolada aos pés. Podemos sempre puxá-la, mas nunca mais vai tapar tudo. E não, nunca me esqueço disso. .

Sem comentários: