terça-feira, março 31, 2009

Ponta do Sal

O mundo, lá longe, nem se ouve.
Um sorriso que mais ninguém viu
O mar e os pássaros e musgo e flores entre as rochas e um peito cheio de ar
O sol salpica as ondas de mil reflexos que cabem todos num olhar.
A magia não se explica, emociona-nos!

sexta-feira, março 27, 2009

tela por pintar.

é a melhor parte do jogo.

a adivinha.

com a certeza de que a resposta está certa, sem batota, por pura certeza e puro mérito próprio.

sabes que sim.

ou pensas que sabes.

sabes que sabes.

sabes?

terça-feira, março 24, 2009

Outono

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados, dizendo aos pais que era uma árvore.
Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.
Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.
Mas os pais disseram olha é outono.
Edson Russell

quinta-feira, março 19, 2009

Graça.

Estava na minha nova cama. Aquela cama branca naquele lado do quarto naquele andar daquele hospital. Tinha os olhos fechados, estava muito cansada, e era véspera de uma cirurgia.

- Amanhã vai doer muito. Mas o mundo dói mais que um dreno.

E então senti alguém pôr o dedo na ponta do meu nariz, antes de o tentar achatar como se isso resolvesse o meu nariz empinado. E então soube.

Há no mundo Graça, verdadeira Graça. Afinal, o melhor que aprendi no hospital foi a respirar fundo...e recomeçar.

terça-feira, março 17, 2009

Inspirar, Suster, Mandar fora.

O mundo corre, lá fora. Com todo o seu esplendor.

O majestoso sol inunda as cortinas com toda a sua violência, dispensando apenas alguns minúsculos raios que escapam por entre a teia do tecido para vir lamber o chão, e depois os lençóis da minha cama.

E eu espero.

Primeiro pelo dia, que se adivinha no céu madrugador que se espraia acolá, depois pelo pequeno-almoço - sempre carcaça com doce e chá - trazido pela enfermeira loira que nunca disse o nome, depois pela mãe, que a todo o minuto "deve estar a chegar", depois pelo resto do dia, sempre igual, e depois a noite já chegou sem passar cavaco às tropas e não é preciso esperar por ela, só pelo sono que nunca chegou, nunca.

Primeiro a Elsa, com o seu analgésico sorriso de criança, por volta das seis. Depois o Délio, às 7h, e com um problema engraçadíssimo com o sol arrebatador que teima em entrar. O Hélder há-de vir todas as tardes. A Daniela, para responder a tudo e informar de tudo. O Dr. Pedro vem antes ou depois do Hélder, ou antes e depois do Hélder, ou sempre que lhe apetecer, com o sorriso - tão raro! - mais bonito deste hospital. E o Dr. Martelo, a ética e a dignidade, a falar baixinho para só eu ouvir, enquanto abre ou espreita ou desinfecta, ou as outras coisas todas que eu nunca quis ver.

Por todos eles eu espero. Por eles e por muitos outros não precisam que os nomeie aqui. Pessoas. Que esperam pela minha reacção, pela minha força, pela minha vontade de continuar, ou pela ausência da reacção, da força e da vontade. Mas esperam. Sempre com um sorriso.

"Sim, Ana, espera só um bocadinho."

Eu espero.

O dia arfa, lá fora. Com tudo o que era meu.

Eu espero.

quarta-feira, março 11, 2009

Intervalos

O sol espraiava-se no ar como se pudesse fazê-lo com naturalidade. O calor seduzia a pressa, e as nuvens fugiram, a brincar à apanhada, para a parte mais baixa da cidade. Nós? Nós roubámos o pio do mundo para voltarmos àquele jardim só nosso...
- Gostas de mim?
- Já me perguntaste isso no início da outra trança, mas sim, gosto.
- Mas quanto?
- Três tranças.
- Mas três tranças é pouco!
- Sim, mas se deixares, gosto de ti a cabeça toda!

E eu vim para casa com quatro tranças no alto da cabeça.

segunda-feira, março 09, 2009

Vénus

Olha bem à tua volta.
aqui mais homens que mulheres. Sabemos que são muito diferentes. Vêm de lugares diferentes, cresceram em sítios diferentes... Mas agora, não olhes para as profissões nem para as origens; olha para eles próprios. Continuam, obviamente, a ser eles próprios...mas vê como em tão pouco diferem uns dos outros.
Agora repara nas mulheres. Em como diferentes são. Em tudo. E as mães, e depois as filhas. Em como já as mães são diferentes e as filhas a anos-luz umas das outras.
Não é engraçado?
E pronto, é assim que nos divertimos, mãe e filha, em jantares com muita gente.

sexta-feira, março 06, 2009

Segundo Caifás

É do género: comecem.
Comecem que eu vou atrás.
Vou atrás das vossas falas, vou atrás de mais um espectáculo, vou atrás da Paixão de Cristo, vou atrás da Nova Evangelização. Vou atrás do pano, e até posso ir com sono, mas vou.
E cada vez está melhor. Porque é mais que representar, porque é mais que partir coisas, porque é mais que levar com luzes e microfones. O que ali fazemos supera qualquer dessas coisas. No entanto, é ir de encontro a uma simples pergunta: E se fosse eu: também gritaria Crucifica-o!?
Estreámos a 28 de Fevereiro com casa cheia. 1 de Março, idem aspas. Próxima paragem: Portimão.
E o espectáculo começa sempre (mas sempre) à hora marcada.

segunda-feira, março 02, 2009

Phi

É pedido um trabalho para o ano inteiro. Os temas podem ser tão simples como a influência das massas nas cabeças das pessoas, ou os direitos dos animais, ou a emancipação da mulher. Mas não. (Epah há pessoas que me irritam.) Não se contentam em ser como é suposto, tipo seguir as propostas dos professores e assim. Têm sempre, sempre de aspirar a mais. Ai ai que eu quero uma tema filosófico. E tumbas! - ora aí está um tema que não só dá o triplo do trabalho, como dá o triplo do trabalho.

E é assim que eu abraço uma dor de cabeça ou um escarafunchar por Kant, Nietzsche, Camus, Sartre e outros que tais.