quinta-feira, novembro 17, 2011

Cascas

Depois da definição do que há, o que há é deserto.

Preocupa-me agora saber se o deserto que há é nova definição ou aquilo que é, necessariamente, quando a definição atinge um patamar aceitável. Porque isso sim, seria muito preocupante.

coisas que nascem daqui, sim, mas não são profundas. De alguma maneira, não sabem a verdadeiro.

não é de dormir que eu preciso. Ou de tempo, ou de escuro. Agora há só este muito seco, que com sono não passa, com tempo só seca e com escuro se eterniza.

Sei que preciso de morrer para todas estas cascas, mas não sei como.

terça-feira, setembro 06, 2011

Ano velho. Ano novo.

"(...) Mandaram-me escolher um objecto que fosse importante para ti. Eu entrei no teu quarto e...meu Deus, não posso levar o quarto! Então decidi trazer a agenda. Porque eu sei que para ti, o mais importante é a tua vida toda. (...)"

terça-feira, julho 26, 2011

Alegoria da Caverna

"Talvez o brilho das estrelas seja semelhante ao brilho dos olhos daqueles que nos acompanham. Passamos o dia-a-dia com eles, pensamos conhecê-los, pensamos que na luz jamais os confundiremos. Mas e sem a luz? Alguma vez olhámos para eles? Alguma vez fomos ao encontro do brilho dos seus olhos?..."

André Silva

quarta-feira, junho 15, 2011

Sintra II

O que é que muda o que tu pensas? O que eu faço? O que eu digo? E eu? Mudo-te? E o que eu sou? O que é que te faz mudar? Ficar é mudar, quando se trata do tempo. Crescemos e envelhecemos e vemos os nossos pais envelhecer. Amigos, ir. Mas ficas. O que é que te muda?

Eu estou a ser tudo o que tu queres. Tudo o que tu precisas. Sou o que desejas e revejo-me e conheço-me dentro dos teus olhos. Dou-te, para além de mim, outros olhos para ver o que tu és realmente. Outras mãos para moldar a realidade, outros dedos para a tocar, outros braços para a abraçar, outro cérebro para a reinventar.

É este o nosso jardim. Passado, presente, sonho. Porque quero ter sempre a minha mão ao pé da tua. Mas a melhor parte do nosso jardim não é essa. É o nevoeiro... O nevoeiro e a neblina e o orvalho que são vida e mística destas flores e destas árvores e de todos estes bichos e plantas. O nevoeiro que é real na certeza de que não nos compete saber os tempos nem os momentos. O nevoeiro que só pode dar vontade de investir, de querer fazer sempre o melhor.

O jardineiro muda, ao ficar para cuidar. Mas o que é que o muda?...

terça-feira, junho 14, 2011

Sintra

Apareces tão pouco nos meus sonhos

que quando os sonho chego a ter saudades tuas.

.

Entretanto tu és a mesma e continuas

a pôr cravos e rosas ao pé do meu retrato,

e idealizar uma casa ao rés das ondas

(mal pensas nela, riem nos teus ouvidos nossos filhos)

e a fazer da Vida precisamente a ideia

que fizeste de mim desde a primeira hora.

.

Era assim, boa e simples, que antigamente chegavas aos meus sonhos.

E como eu, pela minha, calculava a tua pressa,

fazia-te chegar rosada e ofegante, exausta de correr

da tua porta à porta da minha fantasia.

.

O tempo era o das flores...

E tu colheras uma no caminho e vinhas dá-la

ao maior e melhor de todos os poetas.

Eu fingia fingir acreditar no que de mim julgavas,

e era já acordado que beijava as tuas mãos,

pois desceras comigo do sonho e à minha volta

o estremecer alegre e o perfume suavíssimo do ar

e um silêncio igualzinho ao que se faz quando te calas

eram a tua presença verdadeira...

.

Por que não vens agora?

Todo o tempo é o tempo das flores, para os poetas...

E tu pensas de mim o que pensaste sempre

e bordas nos lençóis as nossas iniciais.

Por que não vens?

Chegarias ainda rosada e ofegante.

Não virias molhar de lágrimas os meus sonhos,

porque não sabes nada... Nem sequer

que até esqueci a cor e o corte do vestido

que tu estreaste (há quantas Primaveras?)

no último sonho em que sonhei contigo...

.

Sebastião da Gama
Campo Aberto

terça-feira, maio 31, 2011

Só aqui.

Anda.

Vamos passear.

Anda, fica comigo.

Vamos voltar ao nosso lugar

que é junto

que é nosso

que é um lugar outro

um outro lugar.

Anda, deixa-me chorar.

Eu vou chorar.

Não chores

não chores

não chores

Deixa-me chorar.

Dá-me a mão. A outra mão.

Leva-me e traz-me

assusta-me outra vez

e outra vez

e outra vez

e outra vez.

Preciso disso.

Preciso de nós.

Preciso de ti.

.

Não voltes.

Não sofras.

Não apagues.

Não te arrependas.

Não teria aprendido.

Não poderia chorar.

E amanhã não seria o que vou ser.

Não voltes.

Fica só aqui.

domingo, maio 15, 2011

A vida partilhada

É tudo acerca disso. Tudo tem a ver.

É a vida partilhada que vale a pena ser vivida.

As pessoas a quem nos damos, com quem nos deixamos...esse abandono é que nos dá...existência. Este dar-se, este partilhar é que nos torna vivos.

Não vou dizer que quem se estilhaça pelo mundo encontrou o elixir da vida. Às vezes partimo-nos. Isso é diferente de partilhar. Partilho algo que era meu e passa a ser teu e meu, mas parto-me quando perco aquilo que dou. Isso não é partilhar, mas estilhaçar-se. Mas sobre isso não interessa falar, hoje.

Vim aqui só para dizer que descobri que tudo tem de ser isto. Tudo deve, no ordenado conhecimento de si, encaminhar-se para o sentido único de todas as coisas humanas, que é a vida partilhada.

terça-feira, maio 03, 2011

Início.

Hoje não tenho poesia. Palavras, doutrinas. Há poucas coisas que preciso de dizer.

.

Tu mudaste a minha vida.

Amo-te, e amar-te-ei sempre.

quinta-feira, abril 14, 2011

This is the dawning of the rest of our lives.

"Hoje é o dia em que a tua vida sozinho começa. Podes achar que não, pode não mudar quase nada ou nada na tua percepção e vivência das coisas, mas hoje muda. A partir de hoje és maior. Hoje, a tua decisão, a tua opinião valem por si. Hoje és responsável por ti, pela tua mãe, pelo teu futuro, pelo teu país. Hoje, tu contas, para todo o mundo. (...)"
Estes, desta fotografia, podiam ser quaisquer outros. Aquela camisola da esquerda podia não ser a que eu pintei. Aquele chapéu ali podia nunca ter andado na minha cabeça. Aquela podia não ser a praia ao lado da minha praia. Aquelas toalhas podiam não vir nunca a ser para eu ver. E eles, todos, aquelas pessoas, podiam nunca me ter abraçado.

Mas ali eu vejo as minhas pessoas. E ao lado, atrás, ou à frente, todas as minhas outras pessoas. Ali, vejo-me a mim, vejo todos os que eu sou, e vejo a alegria que temos em partilharmos o melhor que somos. Mesmo que seja só estar um bocadinho na praia no início da Primavera e levar chapadas de areia a cada 5 segundos.

Hoje eu conto. E a primeira coisa que tenho para contar é isto mesmo: não há outra vida que eu queira ter, outra família ou outros amigos. Construíram-me, todos. E eu tenho tudo aquilo de que preciso.

quinta-feira, abril 07, 2011

Colo do Mundo

"A solidão não tem cura. Mas se tem um contrário ou um oposto, ele é exactamente esta casa, esta segurança, este lugar nosso, e cabe inteirinho dentro de um abraço."

segunda-feira, março 21, 2011

Hoje, epiteto-te de outra coisa.

Uma cicatriz na testa atesta aquilo que já foi um síndrome da sela turca (harmonioso epíteto para se dar a um tumor na hipófise...).

Deus, na minha casa.

A possibilidade de cheirar pela primeira vez? De saborear pela primeira vez? De pela primeira vez correr, cozinhar, limpar, rebolar na relva? Ir apanhar amoras depois da chuva? O dom de ser e de aceitar e de participar da empresa maior e mais feliz de todas. A faculdade de respirar cada tempo, a faculdade de recomeçar.

Não imaginas como é bom estar aqui., sorriu ela. Como Pedro disse ao Cristo.

Hoje, epiteto-te de outra coisa. Uma outra coisa, maior que nós, que tudo o que conhecemos. Um ponto, um átomo, o mais pequenino de todos. Aquele que é mais verdade que o sol. Que vinha antes do princípio, e que eu guardo no bolso. A sombra da sombra da sombra mais branca e mais redonda de todas. O Mosteiro Invisível que cabe inteiro num adenoma da sela turca.

Deus, na minha casa.

segunda-feira, março 14, 2011

Decantação?

Tic, tac, tic, tac.

Onde ficaste? Que foi que deste? Onde moras? És quem?

Moro porque sei que tem mais sabor. Não o sinto agora, mas... Minto. Sinto-o agora já porque o antecipo, sabendo que me vai saber melhor. Saboreio hoje o saber que amanhã vou sentir-me bem por ter esperado, aqui. Se quiseres, é puramente egoísta, morar. Porque vai ser melhor para MIM.

Vou continuar a esperar. Inteira?

Vou fazer a minha decantação. Decantar-me. Quando acabar, descubro. Espero.

Tic, tac, tic, tac. Olha eu a morar.

quarta-feira, março 09, 2011

Decantação?

E pronto, parece que sou resmungona. Acho que o lado de cá é mais difícil, mas não conseguiria trocá-lo. Não consigo. Não quero. Sei que assim é impossível, e que cada vez vai ser mais. Ter percebido isto não me parece nenhuma conquista, mas parece ter sido difícil. Agora...agora não sei. Estou num sítio que só pode mudar. Num limbo. É como se tivesse tentado fazer um teletransporte, mas a coisa tivesse corrido mal. E então não estou aqui, nem lá. Não estou. Tenho um não-lugar? Resmungo porque faz sentido. Chateia? Resmungassem, tudo havia de ficar resolvido, logo-ali. É assim que as pessoas crescem, creio. Olhando o que está visto, como se fosse a primeira vez. É assim que um não-lugar, como a solidão, se evapora.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Campos.

Diz lá. O que seria eu, se não clareasse? É assim mesmo que se protegem as pessoas: protegendo. Clarear-te é proteger-te, e eu protejo-me, assim, clareando-te.
Dizem que o facto de explicar e perceber e saber não soluciona, mas toda a minha Humanidade diz que sim com a cabeça. O que é que eu podia fazer, quando ainda podia decidir, senão acenar também, e vivê-lo, para este sempre, com tudo o que sou?
É a minha grande liberdade. É eu, isso. E tu sabes!... Chama-me. Ou não me chames. Sabes que nunca te vou dizer o que fazer. Campos. Diz.

domingo, janeiro 23, 2011

"Deus é a cabeça!"

Quando acho que já está, eles vêm dizer o contrário.

Há sempre espaço para mais um, nem ponderamos dizer que não. Ponderando, chegaremos rapidamente à conclusão que não faria sentido. Temos hoje, dia 22 de Janeiro de 2011, dez crianças dentro da sala. Doze, se contarmos connosco. Sentimo-nos já ultrapassadas quando um resolve dizer qualquer coisa como "Deus é a cabeça!".

Hoje chegou mais uma. Pequenina, como todos. Era o primeiro dia, a mãe ficou também. Um dia vai coordenar um grupo de jovens, ser MEC ou Consagrada? Será que vai sair a mio do caminho? Talvez volte mais tarde. Tantos voltam... Ou talvez não volte nunca, segura do que decidiu. Ou talvez ainda sinta um dia qualquer coisa que a carcome por dentro, e resolva investigar.

Para mim, o melhor de ser catequista é seguramente também o pior.

É nas nossas mãos, também, que eles repousam. Eles inteiros. As suas famílias, os seus pares, os seus medos e capacidades; as suas necessidades e as suas realidades; as suas dúvidas, as suas conquistas, os seus desertos e as suas montanhas. E se é uma enorme responsabilidade que provoca um medo pavoroso, é também e sobretudo ainda um mistério assombroso.

Para mim, o pior de ser catequista é seguramente também o melhor.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Exquis

Sim, ainda tenho muitas coisas para dizer. Coisas que já fui. Presunções que tenho. Nuvens que penso. Pessoas que sou. Tudo isso é real, porque eu. É tão real como eu, ou seja, si próprio. Vago? Sempre e nunca, só depende do ponto e vista. Há até muita gente para dar por isso. Ou assim volta e meia alguém diz. Mas às vezes não há ninguém. Ninguém. Um ovo é só um ovo, e a melancolia passa incólume. É por isso que a humanidade só pode aceitar o objectivismo.