domingo, setembro 23, 2007

Grey Days

foto do google
"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem, cada um como é."
Alberto Caeiro [Fernando Pessoa] (1888-1935)
É o poema mais pequeno que conheço. Trouxe-mo a minha mãe, a dizer que ele tinha a minha cara. Disse "Para todas as pessoas este poema tem um sentido. Para ti, quer dizer exactamente o contrário.".
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As pessoas dizem sempre "está um óptimo dia", quando vêm um céu limpo. Não percebo porquê. É pura teimosia que transmitem ao seu cérebro. Nos dias cinzentos, é quando há mais acidentes nas estradas. Porque a cinza do céu apaga as cores da retina - e as pessoas vêm tudo cinzento. Quem vê tudo cinzento, não destingue um vermelho dum verde, não repara nas passadeiras, não se apercebe de um sinal de proibição, fica sem reacção à cor dos carros que passam. Para estes cérebros, o cinzento é uma cor pesadíssima. (Toda a gente diz que o preto, o breu, é a ausência de cor. Eu acho que para o cérebro, é o cinzento.) O pesar que esta cor que vem do céu tem sobrecarrega a memória, o sistema imunitário, abranda os reflexos, afecta todo o funcionamento normal do corpo.
Tudo porque mandámos dizer aos miolos que o dia estava péssimo quando não descobrimos o Sol.
É preciso ser muita humano, pah...

1 comentário:

Boop disse...

Bem!!!
Que dissertação fantástica!

Granda prima!!!!!